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Guarda Municipal RJ, integrante do antigo Grupamento de Ações Especiais e agora GOE, Grupamento de Operações Especiais

sábado, 31 de agosto de 2013

BLACK BLOCS JÁ SE ARTICULAM EM 23 ESTADOS DO PAÍS


No Maranhão, os integrantes da página dos Black Blocs no Facebook contam a história da Balaiada, movimento popular rebelde formado por "escravos aquilombados e caboclos" que tomou a segunda maior cidade do Maranhão no século 19. Os de São José dos Campos colocaram na internet a imagem da "mãozinha do curtir" segurando um coquetel molotov.

Já os goianos, assim como os demais, se dizem anarquistas e afirmam que "sua "pátria é o mundo inteiro" e "sua lei é a liberdade". No Pará, a bandeira brasileira está pintada de preto e vermelho, com o "A na bola", símbolo do anarquismo, no lugar do Ordeme Progresso.

Quase dois meses depois do começo dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL), discussões virtuais e presenciais sobre o uso da violência como estratégia política nas manifestações de rua já são feitas em 23 Estados. Por enquanto, só Amapá, Tocantins, Sergipe e Acre ainda não têm fóruns de internet dos Black Blocs.

A página mais popular dos Black Blocs no Facebook é a do Rio, com mais de 18 mil seguidores. Em São Paulo, além da capital e de São José dos Campos, outras cinco cidades têm fóruns de discussão anarquistas (Ribeirão Preto, Rio Preto, Rio Claro, Piracicaba e Sertãozinho). Os cearenses fizeram o documentário Com violência, sobre as ações do grupo na Copa das Confederações, com mais de 50 mil acessos no YouTube.

No 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, eles pretendem promover um "badernaço" nacional. A articulação vem sendo feita na página do Black Bloc Brasil, com quase 40 mil seguidores. "Muitos dos jovens que estão usando essa estratégia da violência nas manifestações vieram das periferias brasileiras. Eles já são vítimas da violência cotidiana por parte do Estado e por isso os protestos violentos passam a fazer sentido para eles", afirma o professor Rafael Alcadipani Silveira, coordenador de pesquisas organizacionais da Fundação Getúlio Vargas/SP.

Silveira tem acompanhado as discussões virtuais dos anarquistas e esteve nos últimos dois protestos.

Inspirada inicialmente em ativistas alemães, que atuavam de preto e com máscaras de gás como segurança nas manifestações nos anos 1990, a estética e ação Black Bloc se fortaleceu principalmente depois de ganhar os Estados Unidos, onde o pacifismo era discurso hegemônico graças às vitórias nas lutas pelos direitos civis, lideradas por Martin Luther King Júnior, e às passeatas hippies contra a Guerra do Vietnã, sob o lema "faça amor, não faça guerra".

Atos de depredação em Seattle, em 1999, que impediram diversos delegados de chegarem à reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), conseguiram provocar o debate sobre o papel da violência nas manifestações. Uma das referências do debate foi o livro Como a não violência protege o Estado, do ativista americano Peter Gelderloos, que já passou duas temporadas em prisões americanas e espanholas.

Esses manifestantes passaram a argumentar que depredação não é violência, mas uma intervenção simbólica que atinge o cerne do capitalismo: a proteção à propriedade. De acordo com essa filosofia, seriam atos violentos somente as ações que ferem os indivíduos.

"Depois de Seattle, os movimentos sociais passaram a aceitar a violência como uma das estratégias políticas e a debater abertamente a questão", explica o filósofo Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos autonomistas no Brasil. Além da estratégia dos Black Blocs, há nos movimentos globais as ações lúdicas e festivas (chamadas de Pink Blocs), estratégias no Brasil representadas pelas Paradas Gays, Marchas da Maconha e das Vadias, e as pacifistas (White Blocs).

"Não se pode dizer que alguém é do grupo Black Bloc, já que se trata de uma estratégia de ação. Ainda que seja adepta da violência nas manifestações, a pessoa pode variar suas atitudes conforme a situação. As ações nas ruas podem ser de resistência e pacifistas, conforme a necessidade. O integrante de um coletivo, por exemplo, pode usar essas diferentes formas de ação de acordo com o protesto.

Não há repressão na Parada Gay, por exemplo. Por isso, nunca haverá Black Blocs nesse evento", explica um integrante do coletivo Desentorpecendo a Razão, que pediu para não se identificar.

Na atual fase brasileira, onde o Estado está em descrédito, a moda da violência e da anarquia acabou pegando mais do que as outras, contagiando rapidamente a nova geração de jovens. Ortellado acredita que é só uma fase, já vivida pela Argentina e pela Espanha em épocas de crise política. "São momentos de indignação", diz. A violência, no entanto, costuma escurecer qualquer bola de cristal.

CUTELEIRO DE SOROCABA CRIA FACA PARA A ELITE DO EXÉRCITO


Faca 'onça negra' é usada somente pelos 'guerreiros da selva'. São três dias para forjar o aço e esculpir uma faca de 46 centímetros.
Ricardo Vilar é cuteleiro e fabrica facas para o Exército brasileiro (Foto: Geraldo Jr. / G1)




Um cuteleiro de Sorocaba (SP) é o responsável por produzir uma arma de uso exclusivo da elite do Exército brasileiro. Ricardo Vilar, que trabalha no ramo há 20 anos, criou a faca "onça negra", restrita aos militares especializados do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS).

A peça exclusiva é uma faca artesanal com madeira de extrema resistência, aço fundido a 1.200ºC e, no cabo, a cabeça de uma onça com detalhes minuciosos. A lâmina traz as inscrições CIGS, que indica o destino da peça. “O Exército fez o primeiro contato no segundo semestre de 2005. Seis meses depois apresentei para eles a faca 'cabeça de onça' que é produzida até hoje. Eu mesmo esculpi e personalizei o que hoje é o símbolo de oficiais de elite”, comenta Ricardo Vilar.
A partir daí, milhares de facas foram produzidas para um grupo restrito do Exército. Para fabricar a faca, explica o cuteleiro, foi preciso seguir uma série de requisitos, como saber exatamente o que era necessário, do que os militares precisavam e qual seria a utilização da peça. “Antes de criar a 'onça negra', eu e o Exército conversamos muito. Precisava entender qual era o uso, se era um enfeite ou uma faca para uso em operações. A partir daí, criei a peça, que pode cortar qualquer coisa. Ao mesmo tempo, ela é flexível e rígida com uma lâmina de 12 polegadas”, explica Vilar.
A faca é produzida em uma pequena sala dentro de uma empresa na Zona Oeste de Sorocaba. Ricardo conta apenas com a ajuda de dois aprendizes. São três dias entre forjar o aço e finalizar a madeira. “Antes disso, é impossível fazer uma faca que será usada por guerreiros de selva. Essa faca nunca quebrou e é impossível conseguir separar cabo e lâmina de uma 'cabeça de onça'”, garante ele.
Como a faca é destinada apenas para os militares que concluíram o curso de especialização de operações na selva, cada peça produzida depende de um ofício encaminhado do Exército para Sorocaba. “Eles me mandam um documento oficial pedindo o número de facas. Eu envio a encomenda para Manaus, na base do CIGS. A entrega é feita com uma bela cerimônia. Mas a faca não é um presente, o militar tem que pagar por ela", comenta Vilar, explicando que a faca só chega ao dono depois de um ritual obrigatório de entrega, ou seja, nenhum militar tem autorização para retirar a faca na oficina.

Os militares que querem ter uma faca designada à elite do Exército devem desembolsar R$ 490. "Apenas aqueles que concluíram o curso na selva e têm o brevê podem receber a faca. Já recebi visita de coronéis e generais, que não passaram pelo curso, querendo comprar a 'cabeça de onça', mas expliquei que isso é impossível, independente da patente", lembra Vilar. O número de peças encomendadas varia bastante. "Já fiz 150 em um mês e, no outro, 15", afirma.

 
Civis

O cuteleiro também produz facas a que os civis podem ter acesso. “Uma faca da Brigada Paraquedista é liberada, pelo Exército, para que pessoas comuns possam comprar. O preço é de R$ 450”, esclarece Ricardo, que produz 90% das peças para quem gosta de acampar e pescar.
Ele também fabrica peças personalizadas, como espadas com desenhos e detalhes em ouro, que têm uma fila de até dois anos para os compradores. “São peças únicas, que jamais se repetem. É um resgate de técnicas que fazem a diferença na hora de forjar o aço, esculpir um desenho e fazer todo o acabamento da peça".
Além do tempo de espera, o comprador precisa desembolsar cerca de R$ 9 mil. "Algumas pessoas se assustam e falam que não tem R$ 9 mil de material em uma faca. Mas eu sempre respondo que o material de um quadro também não custa muito. O que está em discussão é o trabalho de um artista, não o preço do material", explica.
Todas as facas e facões criados por Vilar são batizados com um nome de animal brasileiro. “Temos o lobo-guará, quati e esquilo. São facas de material, tempo e tamanhos diferentes. É um orgulho colocar nomes de animais da nossa fauna em produtos que são criados com cuidado e carinho, apesar da rusticidade”, diz Vilar.