Operação GOTHIC SERPENT
Em 3 de outubro de 1993, a Força-Tarefa Ranger lançou sua sétima sortida, desta vez contra uma das fortalezas de Aideed numa favela do bairro Mar Negro, nas proximidades do Mercado de Bakara, para capturar dois colaboradores do general. Helicópteros transportando a força de assalto (Delta) e a força de bloqueio (Rangers) foram lançados da base localizada no Aeroporto de Mogadíscio, e uma coluna motorizada saiu da base três minutos mais tarde. Às 15:42h, a coluna motorizada chegou à área do alvo, próximo ao Hotel Olympic. Os Rangers estabeleceram um perímetro de defesa, enquanto os Deltas procuravam os apoiadores de Aideed. Ambas as forças ficaram sob intenso fogo inimigo. Os Deltas capturaram vinte quatro somalis e quando estavam começando a embarcar os prisioneiros nos caminhões para sair da aérea, um MH-60 Black Hawk de callsign “Super 61”, que estava dando cobertura foi atingido por RPG e caiu a três quarteirões da área do alvo. Imediatamente, uma esquadra de Rangers, um helicóptero de escolta MH-6 Little Bird e outro MH-60 com quinze homens de uma equipe C-SAR, seguiram para o local da queda. Os tripulantes do MH-6 chegaram primeiro à cena de ação e pousando em um beco no meio do tiroteio, evacuaram dois feridos para um hospital de campo. Na seqüência, chegaram os Rangers e o helicóptero de CSAR. Quando desciam por fast hope os dois últimos homens da equipe de busca e salvamento, essa aeronave também foi atingida por RPG, o piloto manteve o controle da aeronave até o final do desembarque e retornou para base.
Dois MH-60 atingidos
A situação continuou a piorar, e foram atingidos outros dois MH-60, um deles conseguiu retornar para base, o outro, de callsign “Super 64”, pilotado pelo Warrant Officer de 3ª Classe (Suboficial) Michael Durant, caiu a cerca de 1.5 Km do “Super 61”. A multidão foi para o local, e a despeito da heróica defesa, matou todos os tripulantes, exceto o piloto que foi pego como refém. Dois defensores do local da queda os MSgt Gary Gordon e Sfc Randall Shughart, foram postumamente agraciados com a Medalha de Honra.
Na área alvo, depois de embarcar os detidos no comboio, os remanescentes das forças de assalto e bloqueio seguiram para o local da queda do “Super 61”, abrindo caminho sob intenso fogo das milícias e assumindo posições a sul e sudoeste da aeronave abatida. Estabelecidos em posições defensivas, os soldados trataram os feridos e mantiveram fogo supressivo para manter os somalis afastados, enquanto eram realizadas as primeiras tentativas para retirar os corpos dos tripulantes do “Super 61”. Já a coluna com os detidos, comandada pelo TCel. Danny McKnight, comandante do 3º/75º Batalhão de Rangers, também tentou chegar ao local da primeira queda por outro caminho. Não foi possível encontrar o caminho entre as ruas estreitas e sinuosas, e depois de sofrer muitas baixas, perder dois caminhões de 5 toneladas e ter diversos outros veículos avariados o comandante resolver retornar a base no aeroporto.
No caminho de volta, a coluna encontrou outra com elementos da Força de Reação Rápida com Rangers e equipes das Forças Especiais que estavam seguindo para o local da queda do “Super 64”. As duas colunas retornaram a base com os feridos. Nesse meio tempo, outra Força de Reação Rápida americana que servia com a UNOSOM II, mandou uma companhia do 2º Batalhão do 14º Regimento (10ª Div), para tentar chegar ao “Super 64”, mas ela foi detida pelas milícias nas proximidades da rotatória K-4. O comandante da Força de Reação da UNOSOM II mandou então essa unidade, sobrepujada em poder de fogo, seguir pára o aeroporto afim de reagrupar e coordenar os esforços de resgate com a FT Ranger.
Enquanto as forças que tentavam prestar apoio no local das quedas eram submetidas a idas e vindas, frente à confusão, os bloqueios e a resistência nas ruas, os homens que já estavam no local da primeira queda estavam ficando sem os suprimentos básicos. Eles receberiam água e munição de um MH-60 durante a noite, mas a aeronave também acabou foi atingida por RPG e também foi posta fora de combate.
Uma coluna de resgate foi formada no Aeroporto e seguiu para área do Porto Novo. Houve um pouco de demora até serem preparados os Carros de Combate e as Viaturas Blindadas, fornecidos pelas forças aliadas do Paquistão e da Malásia, que eram as mais próximas do local. Essas forças foram integradas com o 2º Batalhão do 14º Regimento de Infantaria. O tempo gasto com a coordenação foi essencial devido a complexidade de uma operação multinacional como esta. A presença dos blindados era muito importante devido a presença de bloqueios nas ruas e o uso intenso que as milícias estavam fazendo dos foguetes do tipo RPG.
Chega o reforço
Finalmente, depois de algumas horas para planejamento e agrupamento de forças, uma coluna de mais de sessenta veículos da 10ª Divisão e forças agregadas, tendo à frente carros de combate paquistaneses seguiu para o norte com destino a National Street. Acompanhada por helicópteros de ataque AH-1 Cobra, de reconhecimento OH-58 Kiowa Warrior e o pelo UH-60 Black Hawk encarregado do C 2, a coluna percorreu a National Street com cautela até o local das quedas. Dois blindados malaios, com soldados do 2º Pelotão da Cia Delta do 2º/14º Batalhão de Infantaria, tomaram um caminho errado na National Street e foram emboscados. Os soldados rapidamente procuraram abrigo nas construções a sua volta, onde tiveram que permanecer por quatro horas até serem resgatados.
O resto do comboio prosseguiu pela National e virou para o norte em direção ao local da primeira queda, aonde chegaram já às 01:55h da madrugada do dia 4 de outubro. Essa força combinada de Rangers, Forças Especiais e Infantaria da 10ª Div. trabalhou até o amanhecer para retirar os corpos dos pilotos de dentro do destroços do “Super 61”, recebendo, enquanto isso, intenso fogo de armas leves e granadas durante toda a noite. Helicópteros AH-1 e MH-6 deram cobertura, inclusive disparando foguetes de 2.75 polegadas, o que ajudou a manter os somalis a certa distancia.
A Cia Alfa do 2º/14º Batalhão de Infantaria, alcançou o local da segunda queda (Super 64), mas não foram encontrados vestígios dos soldados e pilotos perdidos. Logo pela manhã, todos os mortos do “Super 61”, foram colocados nos blindados e o resto da força seguiu a pé para o sul ao longo da Shalalawi Street e da National, com os blindados fazendo uma cobertura móvel. Os Rangers e os Deltas foram abrindo caminho atirando e correndo, naquilo que ficou conhecido como a Milha de Mogasdício.
O corpo principal da coluna de resgate seguiu para o Estádio onde estavam baseadas as forças paquistanesas, a nordeste da cidade onde chegaram as 06:30h. Os médicos deram tratamento de emergência aos feridos mais graves, que foram depois encaminhados para o hospital ou para o aeroporto.
A contagem das perdas
As perdas foram elevadas, a FT Ranger teve 16 mortos e 57 feridos nos 3 e 4 de outubro, além de um morto e 12 feridos, em um ataque com morteiros ao hangar onde ela estava baseada no dia 6 de outubro. No 2º Batalhão do 14º Regimento de Infantaria (10ª Divisão de Montanha) foram 2 mortos e 22 feridos. Entre os parceiros da coalizão foram mortos 2 malaios e feridos outros 7 e os paquistaneses tiveram 2 feridos. O Exército dos EUA estima que foram mortos entre 500 e 1.500 somalis, entre milicianos de Aideed e populares inocentes que foram usados como escudos humanos ou pegos no fogo cruzado.
Os combates de 3 e 4 de outubro foram um divisor de águas no envolvimento americano na Somália. A já complexa e difícil missão sofreu uma reviravolta com esses acontecimentos. A situação exigiu muita inovação e rapidez na tomada de decisões por parte de todos os escalões envolvidos, em condições que não permitiam aos soldados americanos tirar partido de sua superioridade tecnológica. A experiência, o senso comum, coesão da tropa, e o treinamento tático superior foram as virtudes que tornaram possível a sobrevivência nesse novo ambiente de combate.
Em 14 de outubro de 1993, depois de intensas negociações, Aideed libertou o Suboficial Michael Durant, piloto e único sobrevivente da queda do “Super 64” e um soldado nigeriano das forças da ONU, capturado anteriormente, como um gesto de “boa vontade”.
(1) A PM, ou Military Police, é o equivalente norte-americano ao que aqui no Brasil denominamos PE para Policia do Exército, PA para Policia da Aeronáutica e SP Serviço de Policia na Marinha. Não confundir com nossas Policias Militares.
Livros:
- Black Hawk Down: A Story of Modern War by Mark Bowden
- The Battle of Mogadishu: Firsthand Accounts from the Men… by Matt Eversmann
- The Night Stalkers by Michael J. Durant
- In the Company of Heroes: A True Story by Michael J. Durant
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